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Alcântara - um museu a céu aberto

Um bate e volta saindo de São Luis.

Alcântara foi fundada em 1648. Era favorita dos grandes senhores de terras escravocratas, muito prospera durante o período imperial. 

Porém o doce lar dos barões perdeu poder e influência com a abolição da escravatura.  Sem escravos, os donos de terras deixaram a cidade para trás.

Já na chegada a visão da cidade é de encher os olhos. 

De barco, após 01 hora e 20min, chega-se a cidade. A nossa embarcação balançou em um trecho do mar, mas não foi o suficiente para marear.
Para quem vai a primeira vez a Alcântara, é melhor comprar a passagem com um dia de antecedência, ida e volta, e isso só é possível com um agente de viagem. 
Fomos por conta e no Cais da Praia Grande a empresa Bahia Star (única operando/agosto 2022) só vende a passagem de ida, a volta compra-se em Alcântara. Não sabíamos desse detalhe. Assim que desembarcamos fomos rapidamente até a bilheteria porque não queríamos pegar fila e para nossa surpresa só haviam duas passagens disponíveis para retornar. Tivemos muita sorte, porque não estava nos nossos planos passar uma noite na cidade. Fica aqui a dica para quem não deseja pernoitar em Alcântara.
Preço da passagem ida e volta, R$24,00.

Pier de Alcântara
Não contratamos guia. A Daia já tinha lido sobre Alcântara e fomos por contar própria.  

Tínhamos pouco tempo para conhecer o básico. Chegamos às 9h 30min e devido a maré o retorno foi às 12h. Tem muita coisa interessante para ver, porém é necessário ficar uma noite para aproveitar tudo.

Faltaram horas para visitar:
- Museu Histórico de Alcântara;
- Casa Histórica de Alcântara, com mirante para a praça da matriz, ruínas da igreja de São Matias e Ilha do Livramento;
- Casa do Divino, com referências a cultura da Festa do Divino, também funciona como centro de arte, é uma mistura de museu com obras de arte;
- A rua da Amargura (historicamente, a mais importante de Alcântara);
- Ilha do Livramento, onde mora só um casal.


A chegada em Alcântara é como voltar no tempo... Ruas de pedras, casas antigas e muita história. Não tem nenhuma construção moderna. 

Ladeira do Jacaré, leva a Praça e Capela das Mercês

Capela das Mercês

Praça das Mercês

Daquele tempo ainda resta um casario em diferentes níveis de conservação



"Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar"



No quadrilátero da praça principal, na Câmara dos Vereadores, acontecia uma sessão no momento. Pés no passado e os olhos no futuro.  

Capela Nossa Senhora do Desterro, ou a capela dos sinos

Sem titubear, a Daia tocou o sino... espero que tenha feito pedidos.

Ilha do Livramento

Não podíamos retornar a São Luís sem provar o doce mais cobiçado da cidade: o “doce de espécie”,  herança portuguesa feito com farinha de trigo, coco e açúcar. 
Em formato de uma tartaruga é o doce tradicional nas Festas do Divino. 



Toda fiação elétrica da cidade é subterrânea. As fotos ficam bem melhores.


Ruas de pedras que imitam o rabo de um jacaré
A mulher de vestido no centro da foto é descendente de  negros, assim como a maioria dos moradores de Alcântara. O que chamou atenção que ela estava andando pelas ruas de pés descalços. Uma forte marca que ainda carregam do período da escravidão, época em que os escravos não podiam usar sapatos. 

Os sinais do passado escravocrata estão presentes pelas ruas da cidade e em muitos lugares do Brasil. Nosso complexo de avestruz evita um enfrentamento da história, depois da escravidão veio a ditadura. São marcas da crueldade, da tortura, do desprezo humano e a certeza da impunidade. 
Até hoje vemos a herança vergonhosa na população sofrida, nos pelourinhos, antigas senzalas e os respingos desse passado quando direitos fundamentais são negados a população menos assistida, aumento de mortes violentas, fome, negacionismo, censura velada a liberdade de expressão, subordinação ao poder e autoridades, perseguição e até morte a quem se posiciona politicamente. Virou o novo normal.  
Como forma de resistência a sua identidade, a cultura negra contribui e resiste nas crenças, manifestações religiosas, festejos, gastronomia, folclore, cantigas, música, artesanato e danças, passados de geração a geração.


Casa de Cultura Aeroespacial

A cidade também serve de base para lançamento de foguetes, por estar muito próxima a linha do Equador. 


Os primeiros lançamentos de foguetes foram feitos com esse equipamento.


Réplica em tamanho real da Sonda 4

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, frequentada por escravos na época da escravidão.
Aqui a missa começava depois e terminava antes da missa da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Motivo: os escravos deixavam seus senhores na Igreja do Carmo e iam na missa na igreja do Rosário, depois buscavam seus donos antes de terminar a missa no Carmo.


Igreja Nossa Senhora do Carmo,  frequentada pelos senhores de escravos. Estilo barroco genuíno. A única nesse estilo no Maranhão.




Na época do império dois grandes barões de Alcântara, opositores políticos, queriam receber o imperador e brigavam para construir o Palácio mais suntuoso. 

 Em frente a igreja Nossa Senhora do Carmo ruínas que deveriam ter sido um dos Palácios para receber o Imperador.


Outra ruína, ao lado da igreja Nossa Senhora do Carmo, que deveria ser outro Palácio para receber D. Pedro II, também não foi finalizada. 

Palácios projetados para receber o Imperador D. Pedro II que acabou cancelando a visita e as obras foram abandonadas.



Ruínas da Igreja São Matias

Ruína da igreja principal da cidade, toda em pedra e de frente ao pelourinho.
É sem dúvida o centro das atenções e símbolo da escravidão que se fez tão presente na história do nosso país. 

No mesmo quadrilátero, em frente às ruínas, estão o Pelourinho, o casarão que abriga a Prefeitura, a Câmara de Vereadores, o Museu Histórico e a Casa Histórica de Alcântara. 
O Pelourinho é o único original da época da escravatura, em mármore de Carrara. Nada para se orgulhar, mas faz parte da nossa história.


Alcântara recebeu o título de Cidade Monumento Nacional pelo IPHAN


Povo muito acolhedor, cidade sossegada, com história em cada casarão, em cada ruína e em cada esquina pela qual passamos. É um museu a céu aberto. Imperdível!

O retorno a São Luis depende muito do horário da maré. Retornamos ao meio dia. Foram duas horas e meia para conhecer o básico dos pontos principais de  Alcântara. 
Com o mar menos agitado, chegamos no Cais da Praia Grande.


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